Quantas vezes você já viu um
projeto que começou com um orçamento X e no meio do caminho o diretor de
projeto verifica que na verdade vai precisar de X + Y? Isso acontece em muitos
projetos, seja na indústria civil, aeronáutica, automobilística ou de energia.
Quanto maior o seu orçamento maior é a probabilidade de desvio! Portanto, ter
uma estimativa de custo precisa é fundamental.
Todos stakeholders de projeto
querem sempre ao máximo evitar que os desenvolvimentos tenham aditivos de
budget. Para tanto, os responsáveis de custos e diretores de projetos, buscando
ao máximo evitar esses desvios, e também solicitar fundos de reserva muito
altos, podem utilizar uma técnica de estimativas de custos de projetos que
passou a ser bastante utilizada nos últimos anos: as estimativas de três
pontos.
Esse tipo de estimativa é
originado da Técnica de Revisão e Avaliação de Programa, o PERT. São
consideradas, portanto, as variabilidades e riscos de um projeto para aprimorar
a estimativa de custo e orçamentação do projeto. O PERT usa basicamente três
estimativas para definir o valor aproximado de custos de uma atividade e
tarefa:
Pessimista
(cP): os custos de determinada atividade são baseados na avaliação do pior
cenário para a atividade.
Otimista
(cO): os custos de determinada atividade são baseados na análise do melhor
cenário para a atividade.
Mais
Provável (cM): os custos de determinada atividade são baseados em uma análise
realista para o trabalho que será executado e também outros gastos previstos.
A estimativa de custos resultante
da análise PERT é chamada de Custo Esperado da Atividade (cE) e é calculada
através de uma média ponderada dos três tipos de estimativas acima comentado.
Podemos tirar duas importantes
conclusões sobre o modelo de estimativa de três pontos: a equação de média
ponderada irá mostrar uma estimativa mais precisa e os três pontos delimitam a
faixa de variabilidade de seu orçamento posterior. Ou seja, a estimativa de
três pontos, já mostra também qual será sua faixa de desvio possível dentro do
projeto.
Vale ressaltar que sempre as
estimativas devem ser feitas de forma coerente. De nada adianta transformar a
condição otimista e a mais provável na pessimista. Se isso for feito, a
estimativa torna-se extremamente “gordurosa”, e o projeto pode tornar-se
inviável financeiramente (não rentável para a empresa).
A orçamentação é a composição de uma
lista com todos os custos que foram estimados como necessários para a
realização de um projeto, ou seja, é a alocação dos recursos financeiros às
atividades previstas no escopo e cronograma estabelecidos. Define-se a partir
do orçamento uma linha base dos custos totais para monitoramento e medição do
desempenho do projeto. O orçamento é então a base para controlar as despesas e
comparar os recursos realmente gastos nas atividades do projeto com as estimativas
anteriormente fornecidas.
Os custos que foram estimados serão
agrupados de forma a facilitar a compreensão e deixar claro onde foram alocados
e quando será utilizado o dinheiro previsto. Conforme mostra a figura abaixo (Vargas - 2005), o custo total será subdividido nos principais pacotes de trabalho. Essa
subdivisão também deve ser feita sobre as contas de controle e produtos
intermediários (entregas) ao longo do cronograma do projeto. Assim, será criado
um cronograma financeiro, que será a referência para acompanhar o
desenvolvimento financeiro do projeto.
Alocação de Orçamento aos Pacotes de
Trabalho
Fonte:
Vargas, 2003, p. 46.
A estimação dos custos de pacotes de
trabalho será feita logo após a definição do escopo e a elaboração do
cronograma do projeto, definindo dessa forma os recursos associados para
realização das atividades. Esses custos de pacotes deverão ser em seguida
atrelados à uma conta de controle correspondente. Surgirá então o orçamento
técnico, sem as reservas de contingência, que será a soma de todos os custos
dessas contas. Adiciona-se posteriormente uma linha específica às reservas,
destinadas ao plano de contenção de riscos. A próxima figura indica a seqüência
recomendada para elaboração dos diferentes níveis do orçamento de um projeto.
O processo de orçamentação é bem
semelhante ao de identificação dos requisitos de recursos e ao de criação do
cronograma do projeto. Os gerentes financeiros e de projetos devem revisar
todos os documentos de planejamento, listar os materiais, serviços, produtos e
recursos necessários, estimar seus custos e por fim solicitar a aprovação do
orçamento. Podemos listar, dessa forma, seis passos essenciais para
realizar o processo de criação de orçamentos:
1.Revise
os documentos de planejamento;
2.Defina
estimativas de custos e integre-as ao cronograma do projeto;
3.Submeta
o orçamento à aprovação do patrocinador e do comitê do projeto;
4.Comunique
a aprovação do orçamento aos integrantes da equipe e aos stakeholders apropriados;
5.Atribua
o código de contas aos elementos da EAP, se isso ainda não tiver sido feito;
6.Arquive
o orçamento no caderno do projeto.
A finalização do orçamento é
concluída após ser dada a aprovação do mesmo pelos executivos da organização e
clientes do projeto. É importante ressaltar que pelo menos três conferências
das estimativas devem ser realizadas, por toda equipe do projeto. Dessa forma,
pode-se obter a melhor precisão possível e evitar futuras incoerências e
infelicidades durante o desenvolvimento do projeto. Outra situação a ser
observada é que dificilmente um orçamento sofre um adicional de dinheiro depois
que é submetido e aprovado, caso não haja mudanças de escopo ou outras. Ou
seja, o gerente de um projeto vai ter que seguir durante os meses ou anos de
projeto com o orçamento que foi aprovado. Por isso, é muito importante ter a
máxima certeza possível que as estimativas foram bem analisadas.
>>> No próximo tópico, entraremos nos detalhes de cada Método de Orçamentação.
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Cada projeto, por sua complexidade e
magnitude, tem a sua melhor forma de estimação de custos. Mas existe um fator
que é fundamental para qualquer técnica que se queira utilizar na estimativa de
custos: informações. As documentações, dados históricos, o planejamento
detalhado do projeto, o escopo bem definido, tudo isso faz parte do rol de
informações necessárias para se ter uma boa estimativa de custos. Normalmente,
em fases iniciais, sabe-se muito bem o produto ou serviço final que se deseja,
mas faltam informações e conhecimentos de todas as etapas que serão precisas
para se atingir o objetivo.
Pode-se notar também que as
variações de percentagem não são simétricas.
Normalmente o ser humano tem naturalmente a tendência em ser otimista e, dessa forma, ocorre a
superestimação de receitas (economias) e subestimação dos custos. Esse fator
comportamental é incluso na análise que a ICEC (International Cost Engineering Council) demonstra no gráfico da figura que é mostrada a seguir, a qual relaciona a disponibilidade de dados com o grau de precisão da
estimativa de custos. Cabe ressaltar ainda que nunca a estimativa é 100%
precisa.
Percentagem de informação para
estimativa de custos (ICEC)
Fonte: International
Cost Engineering Council (ICEC) – Barbosa, 2007, p. 83.
Um
outro estudo da mesma ICEC sobre a precisão das estimativas mostra os
percentuais de erros nas estimativas sem considerar o fator comportamental.
Conforme a tabela abaixo, podem ser distinguidas seis classes.
Tabela – Precisão de Estimativas (Adaptado
ICEC)
Fonte: International Cost
Engineering Council (ICEC) – Barbosa, 2007, p. 85.
A
Associação Americana de Engenharia de Custos, outra entidade, adota somente três
classes, baseada em estudos e históricos em milhares de projetos
internacionais, de diversas naturezas e produtos ou serviços:
Projeto Executivo: -5% a +15%;
Projeto Básico: -15% a +30%;
Ordem de Grandeza: -30% a +50%.
Enfim, após essa ampla análise das estimativas de custos em projetos, mostrando os mais variados modelos e métodos de custeio, podemos chegar a conclusão que uma estimativa somente será bem feita se dispormos do máximo de informações possíveis. Se não soubermos os detalhes dos processos e do produto que queremos, nunca saberemos quanto isso custará. E provavelmente você terá problemas com o orçamento de seu projeto. A experiência e conhecimento dos stakeholders é fator fundamental também. Anos de trabalho em projetos com certeza ajudarão ao responsável financeiro e ao chefe de projeto a melhor consolidar o budget e o cronograma financeiro específico.
A
estimativa por analogia é a abordagem de custos feita baseada em projetos
anteriores, semelhantes em tamanho, escopo e complexidade. É baseada nos custos
reais desse projetos passados, que não devem ser somente superficialmente
parecidos e sim ter características bem semelhantes.
Essa
técnica é bastante utilizada por ter um custo inferior às outras e ser bem
rápida, entretanto sua precisão não é tão alta. É um tipo de estimativa
classificada como top-down, que
partem do projeto para estimar seus produtos intermediários e pacotes de
trabalho.
Normalmente
a estimativa análoga é usada quando não se tem informações detalhadas do
projeto, os documentos não estão a um nível bom de análise e o tempo para
preparação da estimativa é pequeno, ou seja, a aplicação deve ser para projetos
em fases iniciais ou projeto pequenos, com entregas individuais. Uma
característica importante é a necessidade de conhecimento e experiência dos
profissionais que prepararão essa análise, visando aumentar a certeza sobre as
analogias utilizadas. A tabela abaixo sintetiza as vantagens e desvantagens da
técnica por analogia.
-->
Vantagens
Desvantagens
Rápida
Pouca
precisão
Tarefas não precisam ser identificadas
Feita sob pouca compreensão e informação
sobre o projeto
Menor
Custo
Requer
experiência da equipe
Quando
existe pouca informação para a análise
Disputa
na alta gerência pela maior parte
Dar
ao gerente de projetos uma idéia das expectativas da alta gerência
Menor
compromisso da equipe
-->
2. Estimativa por Ordem de Grandeza
A
técnica de estimar por ordem de grandeza é utilizada quando as informações do
projeto são mínimas e existem poucos dados informativos e a organização deseja
uma estimativa o mais rápido possível. É baseada praticamente na experiência de
quem a faz e alguns poucos dados históricos, ajustando-os por indicadores
paramétricos, fatores de escala e curvas de capacidade. É também caracterizada
como uma estimativa top-down.
-->
3. Estimativa Paramétrica
A
estimativa paramétrica é a técnica que usa de relações estatísticas entre dados
históricos e outras variáveis para calcular as estimativas de custos das
atividades do projeto. É um método de base quantitativa e multiplica o número
de unidades pelo custo para definir a estimativa. A eficiência da técnica será
maior e melhor se houverem bastante dados históricos e com boa qualidade. São
exemplos de formas de utilizar a técnica: custo por linha de código, por metro
linear, por instalação, por horas de mão-de-obra, etc.
Esse
modelo é caracterizado por ser rápido e fácil de aplicar, mas somente nas fases
iniciais do projeto, quando não se tem informações detalhadas dos pacotes de
trabalho. Em geral não são muito precisos, mas são objetivos e passíveis de
repetição. É também uma estimativa top-down,
devendo ser posteriormente distribuído o custo estimado entre as diversas
atividades e os módulos do projeto.
A
estimativa paramétrica usa algoritmos matemáticos e estatísticos parametrizados,
normalmente utilizando uma fórmula simples: esforço = K * tamanho. Entretanto,
podem ser criados outros modelos, como curvas de regressão ou de aprendizado.
Barbosa (2007, p. 75) demonstra também um modelo de capacidade:
CB = CA ( SB
/ SA)X
Onde CB é o custo estimado
do novo projeto, CA o custo do produto que já existe, SA
e SB são as capacidades dos dois projetos. O X é uma potência
utilizada para alterar a proporção do custo do novo projeto em relação ao
existente, variando conforme a complexidade do novo projeto.
Um
exemplo da aplicação desse modelo paramétrico de capacidade pode ser analisado
em um fornecedor de cabeçotes fundidos de motor. O cliente, uma indústria
automotiva, planeja aumentar sua capacidade anual de montagem de motores de 120
mil para 200 mil. Para tanto, terá de desenvolver uma nova linha no fornecedor
atual ou em outro, pois a linha que já existe não suporta mais aumento de
volume. A fundição atual foi recentemente desenvolvida, portanto a análise é
direta. O tempo de ciclo solicitado é o mesmo do atual. A estimativa da segunda
proposta pode ser feita de utilizando os dados do projeto da primeira fundição
que custou R$ 18 milhões. Neste estudo,
a complexidade X é definida como 0,80, conforme demonstra Barbosa (2007, p.
76).
CB
= CA ( SB / SA ) ^ ( 0,80 )
CB = R$ 18M ( 80.000 /
120.000 ) ^ ( 0,80 )
CB = R$ 13 Milhões
As
curvas de aprendizado ou regressão também são utilizados para se ter
estimativas, entretanto requerem dados disponíveis com uma boa correlação.
Barbosa (2007, p. 79) comenta que a dispersão deve ser tal que a curva de
regressão que saca a tendência deve projetar a variável dependente (custo) com
grau de confiança aceitável. O processo de aprendizagem demonstra normalmente
uma curva na qual os custos vão reduzindo conforme o conhecimento sobre
determinada tecnologia ou produto é maior. A figura abaixo demonstra como
funcionaria esse tipo de curva. Logicamente, existirá um limite para essa
redução de custos, pois um projeto não depende basicamente de conhecimento dos stakeholders.
-->
4. Estimativa Bottom-Up
Podemos conceituar as estimativas bottom-up como a técnica que define estimativas
individuais para cada tarefa prevista no cronograma e na EAP do projeto, depois
as totaliza para chegar ao custo total do projeto. O termo bottom-up quer dizer de baixo para cima, pois a técnica requer que
todos os custos sejam conhecidos nos níveis mais baixos. Ou seja, através uma
EAP qualquer pode-se verificar os menores níveis de pacote de trabalho e ao
subir os níveis altos chega-se ao valor final agregado. Quanto menor o tamanho
e a complexidade do pacote de trabalho, maior será a precisão da estimativa.
Em
conjunto com a estimativa análoga, é normalmente a técnica utilizada para
preparação dos orçamentos de grandes projetos de indústrias de construção
civil, automobilística e siderúrgica, entre outras. Cabe ressaltar também que é
uma técnica que necessita de tempo e custo maiores, ficando dessa forma a responsabilidade
e análise do gerente de projetos sobre a real necessidade dessa precisão
superior contra um custo maior adicional, de acordo com a fase do projeto. A tabela sintetiza as principais características.
-->
Vantagens
Desvantagens
Maior
precisão
Mais
lenta
Compromisso da equipe
Exige mais tempo e custo
Baseado
em visão detalhada do projeto
Tendência
do time em super-estimar
Provê
uma base para monitoração e contrôle
Requer
que o projeto esteja bem compreendido e definido
-->
A partir do conhecimento minucioso do
escopo, das necessidades técnicas do projeto, além das documentações
existentes, podem ser levantados para cada pacote de trabalho ou atividade
específica os recursos e materiais necessários. Assim será feita uma composição
analítica dos custos unitários das atividades, produtos ou serviços. Barbosa (2007)
descreve que o custo do pacote de trabalho será estimado pelo somatório dos
custos previstos para sua execução, distribuídos pelos diferentes elementos
constituintes.
A tabela a seguir indica um exemplo de estimativa de custos para desenvolvimento de um
ferramental específico (molde de injeção plástica), detalhando os custos
unitários de cada atividade para o desenvolvimento desse equipamento, inclusive
mão-de-obra, estudos, materiais e desenvolvimento. O total desses custos
fornecerá uma estimativa de quanto deverá custar o pacote de trabalho
específico do desenvolvimento desse ferramental que é necessário no projeto
específico.
-->
5. Reservas para Contingências
Segundo
o PMBOK, todo projeto deve estimar reservas de contingência para garantir
que todos os recursos a serem usados no projeto estarão contemplados. Essas
reservas são denominadas provisões para riscos e devem integrar o posterior
orçamento do projeto. Portanto, define-se as reservas de contingência como
recursos financeiros adicionados ao orçamento de um projeto para pagar qualquer
evento inesperado.
O
método mais comum de cálculo de reservas é atribuir um percentual sobre o total
de despesas do projeto. A variação varia conforme a complexidade, tamanho e
duração do projeto, e é baseada principalmente em dados históricos e na
experiência dos stakeholders. Deve
ser feita uma avaliação rigorosa do planejamento e cronograma do projeto para
se chegar a um percentual que seja justo e razoável para cobrir os planos de
resposta a riscos. Além disso, o plano de custos do projeto deve mostrar de
forma clara como foi chegado ao custo estimado das reservas, garantindo dessa
forma o conhecimento de todos da previsão a riscos que foi inclusa no projeto.
As
reservas serão sempre usadas a critério do gerente de projeto para lidar com
eventos de riscos que podem ser previstos, mas não garantidos. Essas incertezas
acontecem em todos os projetos, destacando-se os seguintes riscos mais comuns:
uso de uma nova tecnologia, crises financeiras mundiais, inflação, riscos sobre
o desenvolvimento de um novo fornecedor, perda de materiais ou equipamentos por
acidentes, entre outros.
Existem
também as chamadas reservas de gerenciamento, que são custos os quais não podem
ser estimados, pois se referem aos riscos que não podem ser previstos. São
eventos que vão impactar os custos do projeto, mas que não puderam ter sido
pensados antecipadamente, como por exemplo um terremoto de alta escala no
Brasil. Quando esse tipo de evento se torna realidade, impactando o projeto, o
gerente deverá solicitar um acréscimo de orçamento, visto a não previsão
anterior.
Referências Bibliográficas:
-->
BARBOSA,
C. et al. Gerenciamento de custos em
projetos. Rio de Janeiro: FGV, 2007.